LOS JUEGOS PROVECHOSOS - segundas repercussões.

Cenas à mostra


Gazeta do Povo, Caderno G, 11/11/2008

Por Luciana Romagnolli


Diante da pluralidade de linguagens vista sobre o palco do Teatro da Caixa – e arredores – e dos debates relevantes levados a cabo nos dias seguintes às apresentações, a 4ª Mostra Cena Breve se firma no circuito curitibano como um frutífero encontro dos grupos entre si e com o público. Este, a bem da verdade, deixou a dever nos primeiros dias, abandonando boa parte das cadeiras ao vazio, mas se fez presente em quantidade no sábado, superlotando a mostra e vibrando com companhias como a Silenciosa – e, no dia anterior, o Elenco de Ouro.


O sex-appeal de Marina Nucci (à frente) e Giórgia Conceição, em "Los Juegos Provechosos", da Companhia Silenciosa


Foram os dois grupos que fizeram o maior barulho nesses cinco dias, explodindo o espaço do teatro em direção à rua. Com gosto pelo escândalo, a Silenciosa começou sua provocação pelo saguão da Caixa, onde Henrique Saidel interagiu com um boneco inflável de sex-shop e sugestivos cavalos de brinquedo em movimento, presos a eixos que limitavam sua rota. A crítica à ordem social se fez mais polêmica pela presença de Leão Brasil, um homem-propaganda da “vida real” trazido à cena a ler um texto que claramente não entendia. A manipulação e a dominação se evidenciaram, sem que a companhia se excluísse da sociedade que a produz.

A cena continuou na rua em frente, com a chegada das atrizes Marina Nucci e Giórgia Conceição, que se puseram a lavar um carro sensualmente, desafiando os padrões da sociedade da aparência. Os minutos da Silenciosa terminaram com a descida de Léo Glück, por uma corda, do alto da Capela Santa Maria, questionando a liberdade e avivando a dimensão espetacular da cena toda.

Entre as quatro paredes do teatro, muito mais aconteceu que não cabe aqui. Sensíveis adaptações de escritos de Caio Fernando Abreu pelas mineiras do Teatro Albatroz, e de Hilda Hilst pelas curitibanas do Coletivo Joaquina. O texto de Luis Felipe Leprevost como elemento central da cena feita pela Provisória. O teatro concentrado no corpo levado ao palco nu pela Obragem. A tematização do nu, da masculinidade e da biografia na intersecção entre teatro e artes visuais do trabalho de Clóvis Cunha.
Experimentações com projeção de vídeo surgiram na obra de Clóvis e de grupos como ACruel e o Teatro de Alvenaria, enquanto a Vigor Mortis, conhecida por usar o recurso, despojou-se da tela e mirou o horror. Viu-se diferentes graus de risco assumido e de realização do que se propunha. Nem todas as cenas primavam pelo ineditismo ou obedeciam aos 15 minutos. Mas, juntas, ofereceram uma variedade de olhares distintos sobre a realidade e o teatro. Como a aranha de muitos olhos que serviu de metáfora à obra da ACruel.


http://portal.rpc.com.br/gazetadopovo/cadernog/conteudo.phtml?tl=1&id=826710&tit=Cenas-a-mostra

1 comentários:

Mister Wild disse...

o melhor é gosto pelo escândalo, sem a menor sombra de dúvida!!

 

  ©Template by [ Ferramentas Blog ].

Voltar ao TOPO