Nossa Beleza e Aventura Futurística

Ainda — mesmo depois da morte do tempo & do espaço — cantamos o amor ao perigo, o hábito da energia & a intrepidez. Desde então a literatura exaltou uma imobilidade pesarosa, êxtase & sono. Nós exaltamos a ação agressiva, a insônia febril, o passo ginástico, a bofetada & o soco. Nada de sensíveis romances pós-estruturalistas sobre necrofilia.

Nós afirmamos que a magnificiência do mundo foi enriquecida por uma nova beleza: a beleza da velocidade & do artificial. O carro de corrida cuja capota é adornada com grandes canos, como serpentes de respirações explosivas de um carro bravejante que parece correr na metralha & a solitária boneca inflável com realísticos buracos de silicone cor-de-rosa são mais belos que a Vitória da Samotrácia. Não há beleza fora da luta. Nenhum trabalho sem caráter agressivo pode ser uma obra de arte.

Agora sim nós estamos no último promontório dos séculos!... Por que nós deveríamos olhar para trás, quando o que queremos é atravessar as misteriosas portas do Impossível? Nós já vivemos no absoluto, porque nós criamos a velocidade, eterna, onipresente. Nós destruímos toda covardia oportunista ou utilitária. Nós cantamos as grandes multidões excitadas pelo prazer, & pelo tumulto; nós cantamos a canção das marés de revolução, multicoloridas & polifônicas nas modernas capitais; nós cantamos o vibrante fervor noturno de arsenais & estaleiros em chamas com violentas luas elétricas; cantamos o glitter & a dança do acasalamento; estações de trem cobiçosas que devoram serpentes emplumadas de fumaça; pontes que transpõem rios, como ginastas gigantes, lampejando no sol com um brilho de facas; navios a vapor aventureiros que fungam o horizonte; o salto alto & a perna desnuda; locomotivas de peito largo cujas rodas atravessam os trilhos como o casco de enormes cavalos de aço freados por tubulações; & o vôo macio de aviões cujos propulsores tagarelam no vento como faixas & parecem aplaudir como público entusiasmado.

Preferimos ser idiotas a ficar obcecados pela morte. A nossa arte é feita de excesso, superabundância, assombro. Usamos nossa raiva, nosso asco, nossos desejos verdadeiros de caminhar em direção à auto-realização, à beleza e à aventura. Nossa bomba negra explode em esperma & estalos, ervas hilariantes & pirataria, estranhas heresias xiitas & fontes paradisíacas borbulhantes, ritmos complexos, pulsações da vida, tudo o que for sem forma e raro. Debochamos do fetichismo elitista de niilistas patéticos, o autodesprezo gnóstico dos intelectualóides “pós-sexuais”. Esse é nosso desejo verdadeiro & para realizá-lo precisamos contemplar não apenas uma vida de arte pura, mas também o crime puro, a insurreição pura. Amém.





Léo Glück,

Companhia Silenciosa - Maio de 2009.

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